C. S. Lewis
Extraído do livro: O Problema do Sofrimento - Ed. Vida
No Universo decaído e em parte redimido, é-nos possível
distinguir: o bem simples que vem de Deus, o mal simples produzido por
criaturas rebeldes e a exploração desse mal, por parte de Deus, para Seu
propósito redentor (...)
O homem piedoso almeja o bem do seu próximo e, assim
cumpre a “vontade de Deus”, cooperando conscientemente com o “bem simples”. O
homem cruel oprime o próximo e assim pratica o mal simples. Ao fazer esse mal,
porém, ele é usado por Deus, sem seu conhecimento ou consentimento para que se
produza o “bem complexo”. E assim o primeiro homem serve a Deus como filho e o
segundo, como instrumento. Pois com certeza você realizará o propósito de Deus,
independentemente de seus atos, mas para você fará toda diferença se
está servindo como Judas ou como João. Todo o sistema é,
por assim dizer, calculado para o embate entre bons e maus, e os bons frutos da
força moral, da paciência, da piedade e do perdão, pelos quais se permite que o
homem cruel seja cruel, pressupõem que o homem bom comumente continua a buscar
o bem simples.
Digo “comumente” porque há ocasiões em que o homem é
designado para ferir (ou até mesmo, em minha opinião, matar) seu semelhante,
mas apenas quando a necessidade é premente e o bem a ser alcançado é óbvio, e
habitualmente (embora nem sempre) quando aquele que inflige o sofrimento tem
autoridade constituída para fazer isso – a autoridade de um pai derivada da
natureza, a do magistrado ou soldado derivada da sociedade civil, ou a do
cirurgião, derivada na maioria das vezes, do próprio paciente. Fazer disso um
decreto geral para afligir a humanidade “porque a aflição é boa para ela” (...)
não é de fato romper com o projeto divino, mas sim candidatar-se ao posto de
Satanás nesse projeto. Se você fizer o trabalho dele, também deverá estar
preparado para receber o respectivo salário.
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