sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A produção do bem e a soberania de Deus


C. S. Lewis
Extraído do livro: O Problema do Sofrimento - Ed. Vida

No Universo decaído e em parte redimido, é-nos possível distinguir: o bem simples que vem de Deus, o mal simples produzido por criaturas rebeldes e a exploração desse mal, por parte de Deus, para Seu propósito redentor (...)

O homem piedoso almeja o bem do seu próximo e, assim cumpre a “vontade de Deus”, cooperando conscientemente com o “bem simples”. O homem cruel oprime o próximo e assim pratica o mal simples. Ao fazer esse mal, porém, ele é usado por Deus, sem seu conhecimento ou consentimento para que se produza o “bem complexo”. E assim o primeiro homem serve a Deus como filho e o segundo, como instrumento. Pois com certeza você realizará o propósito de Deus, independentemente de seus atos, mas para você fará toda diferença se

está servindo como Judas ou como João. Todo o sistema é, por assim dizer, calculado para o embate entre bons e maus, e os bons frutos da força moral, da paciência, da piedade e do perdão, pelos quais se permite que o homem cruel seja cruel, pressupõem que o homem bom comumente continua a buscar o bem simples.

Digo “comumente” porque há ocasiões em que o homem é designado para ferir (ou até mesmo, em minha opinião, matar) seu semelhante, mas apenas quando a necessidade é premente e o bem a ser alcançado é óbvio, e habitualmente (embora nem sempre) quando aquele que inflige o sofrimento tem autoridade constituída para fazer isso – a autoridade de um pai derivada da natureza, a do magistrado ou soldado derivada da sociedade civil, ou a do cirurgião, derivada na maioria das vezes, do próprio paciente. Fazer disso um decreto geral para afligir a humanidade “porque a aflição é boa para ela” (...) não é de fato romper com o projeto divino, mas sim candidatar-se ao posto de Satanás nesse projeto. Se você fizer o trabalho dele, também deverá estar preparado para receber o respectivo salário.

 

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