Diferentes, no gênio e na maneira de
ser, um era soldado, o outro era poeta.
O poeta compunha lindos versos que toda
a cidade repetia. Era admirado por patrícios e plebeus, até César já o
convidara para recitar suas poesias durante festins no palácio real.
O irmão soldado já participara de
algumas guerras e no momento estava na cidade, na casa dos pais.
O pai daqueles jovens, um homem vivido,
não podia deixar de notar quão diferentes eram seus filhos. Às vezes comentava
com a esposa ou com os amigos:
- Vejam, meu filho mais velho, o
soldado, desde pequeno mostrou ser um menino tranqüilo, equilibrado, cumpridor
de suas obrigações.
Transformou-se num jovem ajuizado,
correto, trabalhador. Hoje, pertencendo
ao exército romano, tem sido elogiado por sua disciplina, lealdade e
senso de justiça.
- Já o meu filho mais novo, o poeta,
não que seja um mau rapaz, mas sempre foi rebelde, indisciplinado,
irresponsável. No entanto, escreve versos lindos e todos o admiram. Sua poesia
é bonita, mas inteiramente desprovida de conteúdo. Apesar disto todos repetem
seus versos e acredito que mesmo daqui a muitos anos suas palavras serão
lembradas.
- Das palavras ditas por meu filho
soldado ninguém se lembrará. E nelas só existe sensatez e bondade... Como o
mundo dá pouco valor ao que realmente é importante!
O tempo passou! O poeta continuou
fazendo versos lindos e o povo continuou a repeti-los.
O irmão soldado, por reconhecimento das
qualidades pessoais galgou o posto de centurião, e como tal foi enviado a uma
das províncias romanas, a Judéia.
Lá se tornou respeitado por jamais
abusar da posição de romano dominador.
Tratava as pessoas com atenção, justiça
e misericórdia. Por ocupar um cargo de destaque, morava numa bela casa, cuidada
por muitos serviçais. Todos o tinham como amigo. Um dos servos, entretanto, por
haver entre eles muitas afinidades e por ser mais antigo no serviço, era-lhe
particularmente caro.
Ouviu falar que naquelas redondezas
perambulava um homem que já havia curado muitas pessoas. Cegos enxergavam, paralíticos
andavam ao toque de suas mãos. Não teve dúvidas, aquele homem poderia curar o
seu servo.
Foi até ele e pediu-lhe a graça. O
homem prontificou-se a ir até sua casa e visitar o enfermo.
Diante de tão carismática criatura o centurião
sentiu-se humilde e insignificante.
Replicou:
Mais tempo passou. Décadas, séculos,
milênios... e as palavras do irmão soldado vêm sendo repetidas em muitos
momentos, lugares e diferentes idiomas.
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