Você já teve dias parecidos com este? Agenda cheia, como de costume. Na
chegada ao trabalho logo pela manhã, o chefe já cobra justamente aquilo que não
ficou pronto no dia anterior. Uma pequena manipulação da verdade poderia
amansar a "fera". Entretanto, em resposta à advertência da
consciência, a associação com o pai da mentira[1]
é evitada, a verdade é dita, a falha é assumida e a bronca vem na forma de
ultraje. Uma humilhante bordoada em público!
A raiva fica estampada na face que ferve ruborizada. A reação explosiva
parece inevitável. "Irai-vos e não pequeis..." [2] é o pensamento que vem como um freio à
mente que já arquitetava um "coice" à altura da ofensa. A lembrança
do texto da Escritura é como um bálsamo refrescante que aquieta a alma e
extingue a fúria. O domínio próprio misteriosamente supera o ímpeto naturalmente
explosivo. "O sapo é engolido".Superada a dor da turbulência inicial, há desafios pela frente que carecem de foco, em especial, um contrato gigantesco que está para ser fechado e uma comissão igualmente volumosa praticamente ganha. Tudo parece caminhar bem, até que o comprador do cliente ardilosamente impõe uma inesperada condição. Para concretizar a venda será necessário fazer-lhe um "agrado" às escondidas. E não é pouco dinheiro.
Se o camarada for contrariado, adeus venda, comissão, alcance da meta e
reconhecimento profissional. O chefe prontamente concorda, apesar da
imoralidade da operação e dos riscos envolvidos. "A empresa precisa desta
venda", justifica ele. Porém, uma incômoda mensagem dilacera a consciência
já dolorida pela sedução do ganho fraudulento: "...quer comais, quer
bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus" [3].
Um ato escuso e corrupto como este de maneira nenhuma glorifica a Deus.
Não é possível tornar-se cúmplice daquilo que é mal aos olhos do Senhor.
"Se você pular fora, outro fará a venda" já avisa o chefe. Dito e
feito! Adeus comissão. O negócio voa para o colo de um que "topa tudo por
dinheiro".Como se não bastasse a dolorosa perda financeira, mais perdas vêm assim como suas respectivas dores. Perda de reputação. Perda de respeito: "tolo, fraco, fanático e incompetente" são alguns dos adjetivos caluniosos que circulam entre os "colegas". Finalmente, perda de segurança. A indignação do chefe é notória e ameaçadora. O emprego pode estar comprometido, assim como o futuro sustento da família.
O fechamento solene para as dores de um dia assim vem pela dor da
dúvida: "Será que não teria sido melhor entrar no esquema?"
"Será que não foi um posicionamento muito radical?" "Será que
realmente tal escolha foi necessária?". Segundo o senso comum, um resumo
adequado para descrever um dia como este talvez fosse: "um péssimo dia
marcado por uma sucessão de derrotas". Afinal de contas, nada deu certo!
Em dias assim, só há consolo na lembrança de que "se for da
vontade de Deus, é melhor que sofrais por praticardes o que é bom do que
praticando o mal" [4].
É possível desfrutar de "uma paz que excede todo o entendimento"
[5]
e que inunda o coração abatido por tais dores. Pelo poder consolador do Senhor,
é possível que uma misteriosa alegria [6],
incompatível com os desfechos de um dia aparentemente péssimo, traga deleite à
alma. É possível recorrer a mais lembranças da Palavra que podem promover um
contínuo revigoramento: "Bem-aventurados sois quando, por minha
causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra
vós" [7].
"...Que vos torneis irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus
inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis
como luzeiros no mundo..." [8].
Será que a cada dia desafiador você tem se lembrado de que o chamado de
Deus para você é para BRILHAR a qualquer custo, e não para "se dar
bem" a qualquer custo?
Incontestavelmente, uma síntese bem adequada para um dia como este é:
"um ótimo dia marcado por uma sucessão de vitórias!". Afinal
de contas, tudo foi correto!
Proponho uma moral para esta história inspirada em alguns obstáculos à
santidade muito comuns para os cristãos no mercado de trabalho: "Ser
luz" [9]
é como "dar a luz": a dor precede o êxito.
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