domingo, 30 de setembro de 2012

A MÃE DA GENTE


 
LYA LUFT
( Fonte: http://www.veja.com) pg.. 26 – 09 de maio 2012

 
“ Partindo do princípio de que relações são complicadas, ter um filho (a mais incrível experiência humana), ter de criá-lo para que seja feliz, cuidar de sua saúde, seu desenvolvimento, dar-lhe afeto, bom ambiente, encontrar o dificílimo equilíbrio entre vigiar ( pois quem ama cuida) e liberar (para que se desenvolva) é tarefa gigantesca.

Que a mais simples mãe do mundo possa realizar sem se dar conta, e na qual a mais sofisticada mãe pode falhar de maneira estrondosa, dando-se conta disso, ou jamais pensando nisso.

Nesse universo de contradições, pressões, exigências, variedades e ansiedade
em que andamos metidos, qualquer tarefa fica mais difícil, que dirá a de
manter concreta e emocionalmente uma família numa relação boa dentro do
possível. Os comportamentos de pais e mães se avolumam, as necessidades e
exigências de filhos e filhas se multiplicam, as ofertas se abrem como bocas
devoradoras, o stress, a pressa, a multiplicidade de tudo nos deixam pouco
tempo físico para conviver com alegria ou escutar com atenção e pouca
disponibilidade psíquica: também pais e mães estão aflitos.

Se antes o pai chegava a casa à noite cansado, querendo jantar, ler o jornal
olhar um pouco os filhos e a mulher descansar, hoje chegam exaustos os
dois: a mãe, além disso, pela constituição biopsíquica com que a dotou a mãe
natureza ( para preservação da espécie), e pela culpa que nossa cultura lhe
impõe ( ou é uma culpa natural e inevitável), chega duplamente
sobrecarregada. Exclui aqui tarefas que parecem banais como olhar roupa,
comida, questões escolares dos filhos...
 
A mãe da gente é aquela que nos controla e assim nos salva e nos atormenta;
e nos aguenta mesmo quando estamos mal-humorados, exigentes e chatos, mas
também algumas vezes perde a calma e grita, ou chora.
Mãe da gente é aquela que nos oprime e nos alivia por estar ali; que nos
cuida, à vezes demais, e se não cuida a gente faz bobagem; é aquela que se
queixa de que lhe damos pouca bola, não ligamos para seus esforços, e, mais
tarde, de que quase não visitamos; é aquela que só dormem quando sabe que a
gente está em casa, e chegou bem; a que levanta da cama altas horas para
pegar a gente numa festa quando o pai não está ou não existe, ou já fez isso
vezes demais.

A mãe da gente é o mais inevitável, infungível, imprescindível, amável, às vezes
exasperante e carente ser que, seja qual for a nossa idade, cultura, país, etnia,
classe social ou cultura, nos fará a mais dramática e pungente falta quando um dia
nos dermos conta de que já não temos ninguém a quem chamar “ mãe”.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário