sexta-feira, 28 de setembro de 2012

C.S. Lewis – A igreja, leigos e clérigos


 
Original do livro: Cristianismo Puro e Simples – Ed. Martins Fontes
 
As pessoas dizem: “A igreja deve nos liderar”. Isso seria verdade se as pessoas o entendessem da forma correta (…). Por igreja devemos entender todo o corpo de cristãos verdadeiros.

E quando dizem que a Igreja deve nos oferecer uma liderança, precisam entender que alguns cristãos – aqueles que por acaso apresentem os talentos requeridos – devem ser economistas e políticos, e que todos os economistas e políticos devem ser cristãos, e assim todos os esforços na política e na economia seriam dirigidos para pôr em prática o “faça aos outros o que gostaria que fizessem a você” (Mt 7:12).

Se isso acontecesse e se estivéssemos realmente preparados para assumi-lo, encontraríamos, então, bem depressa, a solução cristã para os nossos problemas sociais. Mas é claro que, quando eles pedem por uma liderança da Igreja, o que a maior parte das pessoas está querendo é que os clérigos desenvolvam um programa político. Isso seria simplesmente ridículo.

Os clérigos são pessoas da Igreja que foram especialmente treinadas e reservadas para se preocupar com o que nos diz respeito como criaturas eternas.
E, muitas vezes, estamos pedindo que eles realizem um trabalho bem diferente, para o qual não foram treinados. Nós os leigos, é que somos realmente responsáveis pelo trabalho.
A aplicação de princípios cristãos para promover o sindicalismo ou a educação deve vir de sindicalistas cristãos e professores cristãos; assim como a literatura
cristã provém de romancistas e dramaturgos cristãos – e não de uma bancada de bispos, reunidos para tentar escrever peças e romances nas  suas horas vagas.

[…] É muito fácil ficar confuso a esse respeito, e pensar que a igreja tem um monte de objetivos diferentes – educação, construção, missões, assistência social. Da mesma forma, é fácil pensar que o Estado tem muitos objetivos diferentes: militar, político, econômico e tantos outros. Mas as coisas são muito mais simples do que isso. O Estado existe simplesmente para promover e proteger a felicidade comum dos seres humanos nesta vida. Um marido e uma esposa batendo papo junto a uma fogueira, dois amigos jogando tênis no clube, uma pessoa lendo um livro no seu próprio quarto ou plantando e cuidando do seu jardim – é para isso que o Estado existe.
E a menos que eles estejam ajudando a aumentar, prolongar e proteger momentos assim, todas as leis, parlamentos, exércitos, cortes, polícia e órgãos responsáveis pela economia, por exemplo, são simples perda de tempo. Da mesma maneira, a igreja não existe para nada mais do que levar os homens a Cristo (torná-los pequenos Cristos). Se ela não estiver cumprindo esse papel, nenhuma catedral, missão, nenhum clérigo ou sermão fará a menor diferença, nem mesmo a própria Bíblia. Deus não se fez homem para outro fim. Sabe-se lá se todo o universo não foi criado com esse único propósito e nenhum outro.

 

 

 

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