Extraído do livro: Um ano com C.S. Lewis – Ed. Ultimato
Original do livro: O problema do sofrimento
A doutrina (cristã) tradicional alerta para um pecado contra
Deus, um ato de desobediência, e não contra o próximo. E, se quisermos
sustentar a doutrina da queda em qualquer sentido real, teremos de olhar para
esse pecado central de forma mais profunda e mais eterna do que a moralidade
social.
Santo Agostinho se referia a esse pecado como o resultado do
orgulho, processo pelo qual uma criatura (isto é, um ser essencialmente
dependente, cujo princípio de existência não se encontra em si mesma e sim nos
outros) tenta subsistir em si mesma, existir de forma totalmente autônoma. Um
pecado assim não requer condições sociais complexas, nem alguma experiência
prolongada, tampouco grande desenvolvimento intelectual. Quando uma criatura se
torna consciente de Deus como sendo Deus e de si como pessoa, como um “eu”, a
terrível questão de escolher colocar Deus ou o seu “eu” no centro passa a existir.
Esse pecado é cometido diariamente tanto por criancinhas e gente simples do
campo quanto por gente sofisticada, tanto por pessoas solitárias quanto por
pessoas que vivem em sociedade. Estamos falando da queda na vida de cada
indivíduo e em cada dia da vida de cada pessoa, do pecado básico que está por
trás de todos os outros pecados. Agora mesmo, neste momento, você e eu ou
estamos cometendo este pecado, ou prestes a cometê-lo, ou nos arrependendo
dele.
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