sexta-feira, 25 de abril de 2014

C.S. Lewis – Entrega

C.S. Lewis – Entrega
Extraído do livro: Um ano com C. S. Lewis – Ed. Ultimato
Original do livro: O Problema do Sofrimento

...Agora o bem mais apropriado à criatura é a entrega ao seu Criador – entregar-se intelectual, voluntária e emocionalmente, àquele relacionamento que se dá pelo simples fato de ser criatura. Sempre que age assim, o homem fica bem e feliz. Para não considerarmos um sofrimento desnecessário, esse tipo de bondade começa em um nível muito acima das criaturas, pois Deus mesmo, como Filho, entrega-se de volta a Deus, como pai de toda a eternidade, por obediência filial, o ser que o Pai, pelo amor paternal, gera eternamente no Filho. Foi este o padrão para o qual o homem foi feito, aquele que deve imitar – que o homem paradisíaco imitou realmente. E sempre que a vontade conferida pelo Criador é assim tão perfeitamente ofertada de volta, em obediência prazerosa e agradável à criatura, aí sem dúvida, está o Céu, e daí emana o Espírito Santo. No mundo que conhecemos hoje, o problema está em como recuperar essa auto-entrega. Não somos simplesmente criaturas imperfeitas, carentes de ser aperfeiçoadas: somos, como Newman disse, rebeldes que precisam mesmo é entregar as suas armas.

Portanto, a primeira resposta à questão por que a nossa cura precisa ser tão dolorosa é o fato de que a entrega da vontade que nós passamos tanto tempo reivindicando como sendo a nossa própria já é, em si mesma, não importa onde e como seja realizada, um sofrimento mortificante. Eu sempre imaginei que até no Paraíso houvesse uma auto-suficiência mínima a ser superada, ainda que essa superação e derrota fossem muito mais arrebatadoras por lá. Mas a entrega da vontade própria, inflada e inchada por anos de usurpação, representa uma espécie de morte.

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