C.S. Lewis –
Entrega
Extraído do
livro: Um ano com C. S. Lewis – Ed. Ultimato
Original do
livro: O Problema do Sofrimento
...Agora
o bem mais apropriado à criatura é a entrega ao seu Criador – entregar-se intelectual,
voluntária e emocionalmente, àquele relacionamento que se dá pelo simples fato
de ser criatura. Sempre que age assim, o homem fica bem e feliz. Para não
considerarmos um sofrimento desnecessário, esse tipo de bondade começa em um
nível muito acima das criaturas, pois Deus mesmo, como Filho, entrega-se de
volta a Deus, como pai de toda a eternidade, por obediência filial, o ser que o
Pai, pelo amor paternal, gera eternamente no Filho. Foi este o padrão para o
qual o homem foi feito, aquele que deve imitar – que o homem paradisíaco imitou
realmente. E sempre que a vontade conferida pelo Criador é assim tão
perfeitamente ofertada de volta, em obediência prazerosa e agradável à
criatura, aí sem dúvida, está o Céu, e daí emana o Espírito Santo. No mundo que
conhecemos hoje, o problema está em como recuperar essa auto-entrega. Não somos
simplesmente criaturas imperfeitas, carentes de ser aperfeiçoadas: somos, como
Newman disse, rebeldes que precisam mesmo é entregar as suas armas.
Portanto,
a primeira resposta à questão por que a nossa cura precisa ser tão dolorosa é o
fato de que a entrega da vontade que nós passamos tanto tempo reivindicando
como sendo a nossa própria já é, em si mesma, não importa onde e como seja
realizada, um sofrimento mortificante. Eu sempre imaginei que até no Paraíso
houvesse uma auto-suficiência mínima a ser superada, ainda que essa superação e
derrota fossem muito mais arrebatadoras por lá. Mas a entrega da vontade
própria, inflada e inchada por anos de usurpação, representa uma espécie de
morte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário