Extraído do livro: Um ano com C. S. Lewis – Ed. Ultimato
Original do livro: Milagres
Certamente você me perguntará: será que isso tem tanta importância
assim? Isso não
passa de uma injustiça, ainda que vista hoje pelo outro lado? Se a
princípioacusamos Deus de ter dado alguma vantagem indevida aos seus “eleitos”, sentimo-nos
agora tentados a acusá-lo do contrário: de um injusto desfavorecimento. Contudo, já
devíamos ter desistido há muito de tentar dar sustento a ambas as acusações ao mesmo
tempo. E certamente chegamos aqui a um princípio que se encontra profundamente
arraigado no Cristianismo, e que poderia ser chamado de sacrifício vicário. O homem
sem pecado sofre pelos pecadores e, proporcionalmente, todos os bons pelos maus. E
essa vicariedade – não menos que a morte, o renascimento e a seletividade – é mais
um a característica da natureza.
A auto-suficiência, viver pelos próprios recursos, é
algo impossível no seu âmbito. Todo mundo está em dívida com todo mundo e depende
de todo o resto. E nesse ponto temos mais uma vez de reconhecer que o princípio em
si não é nem bom nem mau. O gato vive do rato de um modo que considero mau; as
abelhas e as flores vivem na dependência umas das outras de uma forma muito mais
prazerosa. O parasita vive no seu “hospedeiro”, mas também assim a criança não
nascida em sua mãe. Sem a vicariedade, não haveria exploração ou opressão na
sociedade, mas também não haveria bondade ou gratidão. Trata-se de uma fonte de
amor e de ódio; de miséria e de felicidade. Quando tivermos entendido isso, não
mais acharemos que os exemplos depravados da vicariedade na natureza nos proibam de
supor que o princípio em si tem origem divina.
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