Extraído do
livro: Um ano com C. S. Lewis – Ed. Ultimato
Original do
livro: Peso de Glória
Vamos
ver o que diz a lei com aquela vozinha terrível e fria (...) : “Se você não
optou
pelo reino de Deus, no final, não fará diferença alguma que escolha você
tenha
feito”. Essas são palavras duras de engolir. Será que realmente não fará
diferença
se foram mulheres, ou o patriotismo, ou a cocaína, ou a bebida, ou uma cadeira
no Congresso, ou o dinheiro, ou a ciência? Bem, não terá sido uma diferença
relevante. Teremos desprezado o fim para o qual fomos criados
e
rejeitado a única coisa que nos satisfaz. Será que faria alguma diferença para
uma
pessoa que está morrendo no deserto saber qual foi o caminho que ela
deixou
de trilhar e que a teria levado ao único poço existente ali?
Um
fato marcante sobre este assunto é que o Céu e o Inferno falam uma coisa
só.
O tentador me diz: “Tenha cuidado. Imagine só quanto sua boa resolução,
a
aceitação dessa graça, vai lhe custar”.Mas Nosso Senhor também nos instrui
a
avaliar o custo. Até mesmo quando se trata de coisas humanas, grande
importância é dada ao que há de comum em dois testemunhos que discordam
em
quase tudo. E mais: Parece ficar bastante claro entre eles que remar em lugar
seguro (perto da praia) faz pouco sentido. O que importa, o que o Céu deseja e
o Inferno teme, é exatamente aquele passo a mais, para fora de nós mesmos e que
nos colocará fora do nosso próprio controle.
...Não
acredito que algum esforço da minha vontade possa acabar de uma vez por todas
com esse desejo por risco calculado, essa reserva fatal. Só Deus pode. Tenho
boa fé e espero que Ele o fará. É claro que não acredito que só por isso eu
tenho o direito de me “encostar”, como se diz. O que Deus faz por nós, Ele o
faz em nós. O
processo que Ele opera parecerá a mim um exercício
repetitivo
da minha própria vontade em renunciar minha atitude diariamente ou até de hora
em hora, especialmente a cada manhã, porque ela cresce e se estende sobre mim
como uma concha todas as noites. As falhas serão perdoadas; o consentimento é
que é fatal, a presença permitida e regulamentada de uma área em nós que
continuamos a reivindicar para nós mesmos. É provável que, enquanto estivermos
do lado de cá da morte, não consigamos expulsar o invasor do nosso território,
mas precisamos estar nas forças da resistência, e não na estratégia do governo
vitorioso. E essa decisão deve, ao meu ver, ser retomada a cada dia. Nossa
oração matinal deveria ser: “Da hodie perfecte incipiere” – rogo que me concedas
um novo começo sem falhas, já que eu não fiz nada ainda.
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