terça-feira, 20 de maio de 2014

C.S. Lewis – Calcule o custo


Extraído do livro: Um ano com C. S. Lewis – Ed. Ultimato
Original do livro: Peso de Glória

Vamos ver o que diz a lei com aquela vozinha terrível e fria (...) :  “Se você não
optou pelo reino de Deus, no final, não fará diferença alguma que escolha você
tenha feito”. Essas são palavras duras de engolir. Será que realmente não fará
diferença se foram mulheres, ou o patriotismo, ou a cocaína, ou a bebida, ou uma cadeira no Congresso, ou o dinheiro, ou a ciência? Bem, não terá sido uma diferença relevante. Teremos desprezado o fim para o qual fomos criados
e rejeitado a única coisa que nos satisfaz. Será que faria alguma diferença para
uma pessoa que está morrendo no deserto saber qual foi o caminho que ela
deixou de trilhar e que a teria levado ao único poço existente ali?
Um fato marcante sobre este assunto é que o Céu e o Inferno falam uma coisa
só. O tentador me diz: “Tenha cuidado. Imagine só quanto sua boa resolução,
a aceitação dessa graça, vai lhe custar”.Mas Nosso Senhor também nos instrui
a avaliar o custo. Até mesmo quando se trata de coisas humanas, grande importância é dada ao que há de comum em dois testemunhos que discordam
em quase tudo. E mais: Parece ficar bastante claro entre eles que remar em lugar seguro (perto da praia) faz pouco sentido. O que importa, o que o Céu deseja e o Inferno teme, é exatamente aquele passo a mais, para fora de nós mesmos e que nos colocará fora do nosso próprio controle.

...Não acredito que algum esforço da minha vontade possa acabar de uma vez por todas com esse desejo por risco calculado, essa reserva fatal. Só Deus pode. Tenho boa fé e espero que Ele o fará. É claro que não acredito que só por isso eu tenho o direito de me “encostar”, como se diz. O que Deus faz por nós, Ele o faz em nós. O processo que Ele opera parecerá a mim um exercício
repetitivo da minha própria vontade em renunciar minha atitude diariamente ou até de hora em hora, especialmente a cada manhã, porque ela cresce e se estende sobre mim como uma concha todas as noites. As falhas serão perdoadas; o consentimento é que é fatal, a presença permitida e regulamentada de uma área em nós que continuamos a reivindicar para nós mesmos. É provável que, enquanto estivermos do lado de cá da morte, não consigamos expulsar o invasor do nosso território, mas precisamos estar nas forças da resistência, e não na estratégia do governo vitorioso. E essa decisão deve, ao meu ver, ser retomada a cada dia. Nossa oração matinal deveria ser: “Da hodie perfecte incipiere” – rogo que me concedas um novo começo sem falhas, já que eu não fiz nada ainda.


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