C.S. Lewis – A essência do orgulho
Extraído do livro: Um ano com C.S. Lewis – Ed. Ultimato
Original do livro: Cristianismo Puro e Simples – Ed. Martins Fontes
A forma mais fácil
de você descobrir o quão orgulhoso é, se você quiser mesmo, é perguntar-se:
“Como eu reajo (detesto) quando os outros me esnobam ou se recusam a sequer me
notar, me empurram, me tratam com paternalismo ou usam-me para se exibir?”
O fato é que o
orgulho de cada pessoa compete com o orgulho de todos os demais. É porque eu
queria mesmo arrasar na festa, que me irritei tanto por outra pessoa ter sido a
estrela. Dois bicudos não se beijam.
Agora, o que é
preciso ver claramente é que o orgulho é essencialmente competitivo por
sua própria natureza, enquanto que os demais pecados são competitivos, por
assim dizer, só por acidente. O orgulhoso não tem prazer algum em ter algo, mas
somente em ter mais do que o próximo. Alegamos que alguém tem orgulho por ser
rico, ou inteligente, ou ter boa
aparência, mas isso não é verdade. Ele se torna orgulhoso por ter ficado mais
rico, ou mais inteligente, ou mais bonito do que os outros. Se todo mundo se
tornasse igualmente rico, inteligente ou bonito, não haveria nada do que se
orgulhar. É a comparação que nos torna orgulhosos: o prazer de estar acima das
outras pessoas. Uma vez eliminado o comportamento competitivo, desaparece o
orgulho. Eis a razão porque eu digo que o orgulho é essencialmente
competitivo de uma forma que os outros vícios não o são. […] É a ambição que me
leva ao espírito de competição sempre que não é possível desviar-se dela. Mas o
homem orgulhoso, mesmo quando conquistou mais do que poderia desejar, tentará
conseguir sempre mais, só para garantir o seu poder. Praticamente todo esse
tipo de mal existente no mundo, que as pessoas atribuem à ambição ou ao
egoísmo, é com muito maior frequência, resultado do orgulho.
[…] O prazer de ser
louvado não é nenhum orgulho. Uma criança que leva um tapinha nas costas por
ter feito bem a sua lição; a mulher cuja beleza é elogiada pelo namorado; a
alma salva à qual Cristo diz: “Muito bem, servo bom e fiel”, todos ficam
agradecidos, e devem ficar mesmo. Aqui o prazer se encontra não no que você é,
mas no fato de ter agradado alguém que você queria agradar, e da maneira mais
correta. O problema começa quando você pára de pensar “que bom ter agradado”, e
começa a se achar - “que pessoa legal eu sou,por ter feito isso ou aquilo”.
Quanto mais temos prazer em nós mesmos, e menos no louvor, tanto pior nos
tornamos. Quando nos alegramos totalmente em nós mesmos e não nos importamos
mais com o louvor, atingimos o fundo. Eis porque a vaidade, mesmo sendo um tipo
de orgulho que aparece mais exteriormente, é o menos detestável e mais
perdoável de todos. A pessoa vaidosa quer ser elogiada, aplaudida, extremamente
admirada e está sempre de olho nisso. Trata-se de um defeito, mas um defeito
infantil e até mesmo - veja só que coisa estranha – humilde. Ele mostra que
você ainda não está inteiramente contente consigo mesmo. Você valoriza as
pessoas o suficiente para querer que elas olhem para você; mas, na verdade,
continua humano.
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