terça-feira, 30 de abril de 2013

C. S. Lewis – Amor real


Extraído do livro: Um ano com C. S. Lewis – Ed. Ultimato
Original do livro: Cristianismo Puro e Simples


Alguns escritores usam a palavra caridade para descrever não apenas o amor cristão entre seres humanos, mas também o amor de Deus pelo homem, bem como o amor do homem por Deus. As pessoas muitas vezes ficam preocupadas em relação ao segundo desses dois sentidos, pois somos ordenados a amar a Deus. Elas não conseguem descobrir nenhum sentimento desse tipo em si mesmas. Então o que fazer?

Aja como se amasse. Não fique aí sentado, tentando fabricar sentimentos artificialmente. Pergunte-se a si mesmo: “Se eu tivesse certeza de que amo a Deus, o que eu faria?” Quando você descobrir a resposta vá e faça (a coisa certa).

De uma maneira geral, o amor de Deus por nós é um assunto muito mais seguro para se pensar do que o nosso amor por Ele. Ninguém é capaz de cultivar sentimentos devotos sempre; e, mesmo se fôssemos capazes disso, é preciso considerar que os sentimentos não são a preocupação principal de Deus.

O amor cristão, tanto em relação a Deus quanto em relação ao homem, é uma questão de vontade. Se nós quisermos fazer a vontade d’Ele, teremos que obedecer ao mandamento: “Amarás ao Senhor teu Deus”. Ele nos dará sentimentos de amor.

Nós não somos capazes de criá-los por nós mesmos e não devemos exigí-los por direito. Mas a grande coisa a lembrar é que, embora os nossos sentimentos sejam inconstantes, seu amor por nós não o é. Ele não está cansado dos nossos pecados ou da nossa indiferença; portanto, ele (o amor de Deus) é bastante rígido na sua determinação de que sejamos curados desses pecados, custe o que custar para nós e para ele.

 

segunda-feira, 29 de abril de 2013

É muito fácil confundir santificação com salvação pelas obras.


A salvação é de graça e pontual. Não há salvação pelas obras (4) -  isso já é liquido e certo!
Mas segundo Efésios 2:10...

 Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.

... somos de Cristo para as boas obras... Deus as preparou de antemão para que andássemos nelas!!!
 
Precisamos tomar cuidado para não nos escondermos atrás da doutrina da salvação pela graça com o intuito de driblarmos a santificação.
 
A palavra nos convida a:
Não nos conformar com o mundo.... renovar a nossa mente... Romanos 12:2 (1)
Deixar de ser imaturo – I Cor. 13:11 (2)
Ser santos, porque Deus é santo. - 1 Pedro 1:16 (3)
 
A salvação é de graça e depende só de Deus na pessoa de Cristo. (4)
A santificação (transformação) também só pode vir de Deus e é um processo para a vida toda. (5,11)
Mas devemos decidir buscá-la... permitir a ação de Deus em nós...
Almejá-la... (6)
Desejá-la... (7)
Voltar nosso olhar para Deus... (8)
Nosso foco de vida deve ser o Reino de Deus... (9)
Deixar morrer nosso eu para viver a vida de Cristo... (10)
Abandonar das coisas do mundo... (11)
Relacionar-se e amar a Deus e a Cristo, nosso redentor! (12)
 

(1) Romanos 12:2
E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus

(2) I Cor. 13:11
Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.

Porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo.

(a salvação) Não vem das obras, para que ninguém se glorie; 

E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça.
 
Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado.
 
Purifica-me com hissope, e ficarei puro; lava-me, e ficarei mais branco do que a neve.

Quem pode entender os seus erros? Expurga-me tu dos que me são ocultos.

E os purificarei de toda a sua maldade com que pecaram contra mim; e perdoarei todas as suas maldades, com que pecaram e transgrediram contra mim;

Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da terra;

Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus.
 
Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim.

Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, mas, qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará.

Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim,
Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.

E que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios.

domingo, 28 de abril de 2013

sábado, 27 de abril de 2013

C.S. Lewis – A corda de segurança


C.S. Lewis – A corda de segurança

Extraído do livro: Um ano com C.S. Lewis – Ed. Ultimato

Original do livro: Peso de Glória

 

Minha tentação mais recorrente é esta: descer àquele mar (se não me engano, São João da Cruz designou Deus de mar) e, chegando lá, jamais mergulhar, nadar ou flutuar, mas só ficar nadando cachorrinho e batendo na água, com todo o cuidado para não ir muito fundo e ficar perto da corda de segurança que me conecta com as coisas temporais.

Isso pode parecer muito diferente das tentações que encontramos no início da vida cristã.

Essa tentação vem mais tarde.

Ela é endereçada àqueles que já admitiram a alegação de que Deus existe.

Nossa tentação é buscar ansiosamente o mínimo aceitável. Todos nós temos caras muito honestas, mas somos pagadores de impostos relutantes.

Fazemos as declarações de maneira honesta, mas temos pavor do aumento dos impostos. Temos todo o cuidado de não pagar mais do que o necessário e esperamos

- com todo o fervor – que, depois de pagarmos, ainda reste o suficiente para sobreviver.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

C. S. Lewis – Uma nova criatura



Extraído do livro – Um ano com C.S. Lewis
Original do livro: Peso de Glória

 
A verdadeira personalidade se encontra mais além – o quanto mais além para a maioria de nós, não me atrevo a dizer. E a chave de acesso a ela não está em nós mesmos.

 A verdadeira personalidade não poderá ser obtida por um desenvolvimento de dentro para fora. Ela será conquistada quando ocuparmos aqueles lugares na estrutura do cosmo eterno para os quais fomos planejados e criados.

 Da mesma forma como uma cor revela a sua verdadeira qualidade quando posta por um artista excelente em seu  espaço previamente escolhido entre outros; ou uma especiaria revela o seu sabor especial quando usada entre os  outros ingredientes apenas onde e quando um bom cozinheiro deseja; ou um cachorro se torna realmente domesticado somente quando acha o seu lugar na casa do seu dono – só nos tornaremos pessoas de verdade quando passarmos pelo sofrimento de termos sido colocados no nosso lugar.

 Somos como mármore à espera de modelagem, como metais à espera de serem despejados no molde. Não há dúvida de que já existem, mesmo no “eu” não regenerado, leves pistas do molde do qual cada um de nós foi concebido, ou do tipo de coluna em que este molde será transformado. Mas acredito que seja um exagero imaginar a salvação de uma alma como se fosse totalmente igual a  transformação de uma semente em flor.

 As próprias palavras: arrependimento, regeneração e novo homem sugerem algo bem diferente. Toda pessoa natural apresenta tendências que precisam ser simplesmente rejeitadas.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

C.S.Lewis – Reflexo da vida divina (Zoe)


Extraído do livro: Um ano com C.S. Lewis – Ed. Ultimato
Original do livro: O Problema do Sofrimento


Essas exigências divinas, que mais parecem vindas de um tirano do que de um ser amoroso, acabam nos guiando para onde desejaríamos ir SE SOUBÉSSEMOS O QUE QUEREMOS.

Ele reivindica o nosso louvor, nossa obediência, nossa reverência. Seria razoável supor que essas coisas poderiam fazer algum bem a ele ou provocar-lhe medo, ou como se diz no canto de Milton, a irreverência humana seria capaz de levar à “diminuição da sua glória”?

Ninguém é capaz de diminuir a glória de Deus recusando-se a louvá-lo, da mesma forma que um lunático não é capaz de impedir o sol de nascer pichando a palavra “escuridão” nas paredes de sua cela.

Mas Deus DESEJA O NOSSO BEM, e o nosso bem é AMÁ-LO (com esse amor de gratidão, próprio das criaturas). E para amá-lo, temos de CONHECÊ-LO; e se o conhecermos, iremos de fato REVERENCIÁ-LO.

Do contrário, daremos provas de que o que estamos tentando amar ainda não é a Deus - por mais que essa pudesse ser a máxima aproximação de Deus que o nosso pensamento e a nossa fantasia conseguissem alcançar.

No entanto, nosso chamado não é só para a reverência e o temor, mas também para REFLETIRMOS A VIDA DIVINA em uma participação de criatura nos atributos divinos que estão muito além dos nossos desejos presentes.
 

Somos convidados a nos “VESTIR DE CRISTO”, a nos tornarmos como Deus. Isto é, não importa se gostamos ou não, Deus pretende nos dar o que necessitamos e não o que supomos desejar agora. Mais uma vez, ficamos embaraçados pela extravagante benevolência, por demasiado amor, e NÃO POR FALTA DELE.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

C.S. Lewis – Rompendo nossas ilusões - Sofrimento


 
Extraído do livro: O Problema do sofrimento
 

Se o primeiro e mais baixo efeito do sofrimento rompe nossas ilusões de que tudo esteja bem, o segundo quebra a ilusão de que o que temos, seja bom ou mau em si mesmo.

Todo mundo já percebeu quão difícil é voltar os nossos pensamentos para Deus quando tudo está indo bem conosco. É terrível dizer que temos “tudo o que queríamos” se esse “tudo” não inclui Deus. Consideramos Deus uma interrupção. Como disse Santo Agostinho: “Deus quer nos dar de tudo, mas não estará em condições de fazê-lo se as nossas mãos estiverem cheias – nesse caso Ele não teria como enchê-las”.

Ou como disse um amigo meu: “Referimo-nos a Deus como um piloto fala do seu pára-quedas; ele está lá para um caso de emergência, mas o piloto espera nunca precisar usá-lo”.

Agora Deus, que nos criou, sabe o que somos e que a nossa alegria se encontra n’Ele. Entretanto, nós não buscaremos isso n’Ele enquanto Ele nos deixar outro refúgio em que haja alguma chance plausível de isso ser encontrado.

Enquanto o que nós chamamos de “nossa própria vida” nos parecer agradável, não estaremos nos entregando a Ele. Assim, o que é que Deus poderia fazer por nós além de tornar a nossa “própria vida” menos agradável para nós e privar-nos da fonte plausível da falsa felicidade?

 

terça-feira, 23 de abril de 2013

Por quê você não corre para os meus braços?


Por quê?     
 
Por que você vive correndo sem tempo para mim?
Por que você não corre para os meus braços?
Por que você não olha para mim?
Por que você vive para baixo, apagado e apegado às coisas que você tem ou triste pelas que você não tem?

Por que você não confia em mim? Se confiasse se entregaria e depositaria sua vida em minhas mãos...
Por que você não me ama e não busca em mim conforto e solução?
Eu sou a resposta!
Só Eu sou o caminho!
Só Eu sou a verdade!
Só Eu sou VIDA!

Cheio de amor, misericórdia
Transformador e SALVADOR!

Por que minha morte significa tão pouco para você?
Foi através dela que você ganhou o direito de ressuscitar comigo!

O que um Pai deseja é conversar com seu filho na viração do dia!  Mas você não está lá!
Você está sempre atento às coisas seculares...
            Correndo...
                     Correndo...
Então você não me vê...  
                não me abraça...
                         não conversa comigo...
                                  não se relaciona comigo...

Como poderei agir em sua vida se não moro em seu coração?
Como nos conheceremos se não partilhamos nada?
Como o amor crescerá entre nós se não for cultivado?
Será que no derradeiro dia Eu poderei dizer: Este Eu conheço; vivi com ele; andei com ele;
vem, entra em minha casa!?

 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

August 1942 - linda história

August 1942. Piotrkow, Poland.
 
The sky was gloomy that morning as we waited anxiously. All the men, women and
children of  Piotrkow's Jewish ghetto had been herded into a  square.
Naquela manhã o céu estava sombrio, enquanto esperávamos ansiosamente. Todos os
homens, mulheres e crianças do gueto judeu de Piotrkow foram arrebanhados em uma
praça.
 
Word had gotten around that we were being moved. My father had only  recently died
from typhus, which had run rampant through the crowded  ghetto. My greatest fear was
that our family would be separated.
Espalhou-se a notícia de que estávamos sendo removidos. Meu pai havia falecido
recentemente de tifo, que se alastrara através do gueto abarrotado. Meu maior medo
era de que nossa família fosse separada.
 
"Whatever you do," Isidore, my eldest brother, whispered to me, "don't tell them
your age. Say you're sixteen.
"O que quer que aconteça," Isidore, meu irmão mais velho, murmurou para mim, "não
lhes diga a sua idade. Diga que tem dezesseis anos".
 
I was tall for a boy of 11, so I could pull it off. That way I might be deemed
valuable as a worker.
Eu era bem alto, para um menino de 11 anos, e assim poderia ser confundido. Desse
jeito eu poderia ser considerado valioso como um trabalhador.
 
An SS man approached me, boots clicking against the cobblestones. He  looked me up and down, and then asked my age.
Um homem da SS aproximou-se, botas estalando nas pedras grosseiras do piso. Olhou-me
de cima a baixo e perguntou minha idade.
 
"Sixteen," I said. He directed me to the left, where my three brothers and other
healthy young men already stood.
"Dezesseis", eu disse.. Ele mandou-me ir à esquerda, onde já estavam meus três
irmãos e outros jovens saudáveis.
 
My mother was motioned to the right with the other women, children,  sick and
elderly people.
Minha mãe foi movida para a direita com outras mulheres, crianças, doentes e velhos.
 
 I whispered to Isidore, "Why?"
Murmurei para Isidore, "Por que?"
 
 He didn't answer.
Ele não respondeu.
 
 I ran to Mama's side and said I wanted to stay with her.
Corri para o lado da mãe e disse que queria ficar com ela.
 
 "No, "she said sternly.
"Não," ela disse ela com firmeza.
 
 "Get away. Don't be a nuisance. Go with your brothers."
"Vá embora. Não aborreça. Vá com seus irmãos".
 
 She had never spoken so harshly before. But I understood: She was protecting me.
She loved me so much that, just this once, she pretended not to. It was the last I
ever saw of her.
Ela nunca havia falado tão asperamente antes. Mas eu entendi: ela estava me
protegendo. Ela me amava tanto que, apenas esta única vez, ela fingiu não fazê-lo.
Foi a última vez que a vi.
 
 My brothers and I were transported in a cattle car to Germany.
Meus irmãos e eu fomos transportados em um vagão de gado até a Alemanha.
 
 We arrived at the Buchenwald concentration camp one night weeks later  and were led
into a crowded barrack. The next day, we were issued uniforms and identification
numbers.
Chegamos ao campo de concentração de Buchenwald em uma noite, semanas após e fomos
conduzidos a uma barraca lotada. No dia seguinte recebemos uniformes e números de
identificação.
 
 "Don't call me Herman anymore." I said to my brothers. "Call me 94983."
"Não me chamem mais de Herman", eu disse aos meus irmãos. "Chamem-me 94938".
 
 I was put to work in the camp's crematorium, loading the dead into a hand-cranked
elevator.
Colocaram-me para trabalhar no crematório do campo, carregando os mortos em um
elevador manual..
 
 I, too, felt dead. Hardened, I had become a number.
Eu, também, me sentia como morto. Insensibilizado, eu me tornara um número.
 
 Soon, my brothers and I were sent to Schlieben, one of Buchenwald's sub-camps near
Berlin.
Logo, meus irmãos e eu fomos mandados para Schlieben, um dos sub-campos de
Buchenwald, perto de Berlim.
 
 One morning I thought I heard my mother's voice.
Em uma manhã eu pensei que ouvi a voz de minha mãe.
 
 "Son," she said softly but clearly, I am going to send you an angel."
"Filho" ela disse suave mas claramente, "Vou mandar-lhe um anjo".
 
 Then I woke up. Just a dream. A beautiful dream.
Então eu acordei. Apenas um sonho. Um lindo sonho.
 
 But in this place there could be no angels. There was only work. And hunger. And fear.
Mas nesse lugar não poderia haver anjos. Havia apenas trabalho. E fome. E medo.
 
 A couple of days later, I was walking around the camp, around the barracks, near
the barbed-wire fence where the guards could not easily see. I was alone.
Poucos dias depois, estava caminhando pelo campo, pelas barracas, perto da cerca de
arame farpado, onde os guardas não podiam enxergar facilmente. Estava sozinho.
 
 On the other side of the fence, I spotted someone: a little girl with light, almost
luminous curls. She was half-hidden behind a birch tree.
Do outro lado da cerca, eu observei alguém: uma pequena menina com suaves, quase
luminosos cachinhos. Ela estava meio escondida atrás de uma bétula.
 
 I glanced around to make sure no one saw me. I called to her softly in German. "Do
you have something to eat?"
Dei uma olhada em volta, para certificar-me de que ninguém me viu. Chamei-a
suavemente em Alemão.. "Você tem algo para comer?"
 
 She didn't understand.
Ela não entendeu.
 
 I inched closer to the fence and repeated the question in Polish.. She stepped
forward. I was thin and gaunt, with rags wrapped around my feet, but the girl
looked unafraid. In her eyes, I saw life.
Aproximei-me mais da cerca e repeti a pergunta em Polonês.  Ela se aproximou. Eu
estava magro e raquítico, com farrapos envolvendo meus pés, mas a menina parecia não
ter medo. Em seus olhos eu vi vida.
 
 She pulled an apple from her woolen jacket and threw it over the fence.
Ela sacou uma maçã do seu casaco de lã e a jogou sobre a cerca.
 
 I grabbed the fruit and, as I started to run away, I heard her say  faintly, "I'll
see you tomorrow."
Agarrei a fruta e, assim que comecei a fugir, ouvi-a dizer debilmente, ""Virei vê-lo
amanhã"..
 
 I returned to the same spot by the fence at the same time every day.  She was
always there with something for me to eat - a hunk of bread or, better yet, an
apple.
Voltei para o mesmo local, na cerca, na mesma hora, todos os dias. Ela estava sempre
lá, com algo para eu comer - um naco de pão ou, melhor ainda, uma maçã.
 
 We didn't dare speak or linger. To be caught would mean death for us both.
Nós não ousávamos falar ou demorarmos. Sermos pegos significaria morte para nós dois.
 
 I didn't know anything about her, just a kind farm girl, except that she understood
Polish. What was her name? Why was she risking her life for me?
Não sabia nada sobre ela, apenas um tipo de menina de fazenda, exceto que ela
entendia Polonês.
Qual era o seu nome? Porque ela estava arriscando sua vida por mim?"
 
 Hope was in such short supply, and this girl on the other side of the fence gave me
some, as nourishing in its way as the bread and apples.
A esperança estava naquele pequeno suprimento, e essa menina do outro lado da cerca
trouxe-me um pouco, como que nutrindo dessa forma, tal como o pão e as maçãs.
 
 Nearly seven months later, my brothers and I were crammed into a coal car and
shipped to Theresienstadt camp in Czechoslovakia.
Cerca de sete meses após, meus irmãos e eu fomos abarrotados em um vagão de carvão e
enviados para o campo de Theresiensatdt, na Tchecoeslováquia.
 
 "Don't return," I told the girl that day. "We're leaving."
"Não volte", eu disse para a menina naquele dia. "Estamos partindo".
 
 I turned toward the barracks and didn't look back, didn't even say good-bye to the
little girl whose name I'd never learned, the girl with the apples.
Voltei-me em direção às barracas e não olhei para trás, nem mesmo disse adeus para a
pequena menina, cujo nome eu nunca aprendi, a menina das maçãs.
 
 We were in Theresienstadt for three months. The war was winding down and Allied
forces were closing in, yet my fate seemed sealed.
Permanecemos em Theresienstadt por três meses. A guerra estava diminuindo e as
forças aliadas se aproximando, muito embora meu destino pareceu estar selado.
 
 On May 10, 1945, I was scheduled to die in the gas chamber at 10:00 AM.
No dia 10 de maio de 1945 eu estava destinado a morrer na câmara de gás, às 10:00
horas.
 
 In the quiet of dawn, I tried to prepare myself. So many times death seemed ready
to claim me, but somehow I'd survived. Now, it was over.
No silencioso crepúsculo, tentei me preparar. Tantas vezes a morte pareceu pronta
para me reclamar, mas de alguma forma eu havia sobrevivido. Agora, tudo estava
acabado.
 
 I thought of my parents. At least, I thought, we will be reunited.
Pensei nos meus pais. Ao menos, pensei, nós estaremos nos reunindo.
 
 But at 8 A.M. there was a commotion. I heard shouts, and saw people running every
which way through camp. I caught up with my brothers..
Mas, às 08:00 horas ocorreu uma comoção. Ouvi gritos, e vi pessoas correndo em todas
as direções através do campo. Juntei-me aos meus irmãos.
 
 Russian troops had liberated the camp! The gates swung open. Everyone was running,
so I did too. Amazingly, all of my brothers had survived;
Tropas russas haviam liberado o campo! Os portões foram abertos. Todos estavam
correndo, então eu corri também. Surpreendentemente, todos os meus irmãos haviam
sobrevivido.
 
 I'm not sure how. But I knew that the girl with the apples had been the key to my
survival.
Não tenho certeza como, mas sabia que aquela menina com as maçãs tinha sido a chave
da minha sobrevivência.
 
 In a place where evil seemed triumphant, one person's goodness had saved my life,
had given me hope in a place where there was none.
No local onde o mal parecia triunfante, a bondade de uma pessoa salvara a minha
vida, me dera esperança em um lugar onde ela não existia.
 
 My mother had promised to send me an angel, and the angel had come.
Minha mãe havia prometido enviar-me um anjo, e o anjo apareceu.
 
 Eventually I made my way to England where I was sponsored by a Jewish charity, put
up in a hostel with other boys who had survived the Holocaust and trained in
electronics. Then I came to America, where my brother Sam had already moved. I
served in the U. S. Army during the Korean War, and returned to New York City after
two years.
Eventualmente, encaminhei-me à Inglaterra, onde fui assistido pela Caridade Judaica,
fui colocado em uma hospedaria com outros meninos que sobreviveram ao Holocausto e
treinado em Eletrônica. Depois fui para os Estados Unidos, para onde meu irmão Sam
já havia se mudado. Servi no Exército durante a Guerra da Coréia, e retornei a Nova
Iorque, após dois anos.
 
 By August 1957 I'd opened my own electronics repair shop. I was starting to settle in.
Por volta de agosto de 1957 abri minha própria loja de consertos eletrônicos. Estava
começando a estabelecer- me.
 
 One day, my friend Sid who I knew from England called me.
Um dia, meu amigo Sid, a quem eu conhecia da Inglaterra, me telefonou.
 
 "I've got a date. She's got a Polish friend. Let's double date."
"Tenho um encontro. Ela tem uma amiga polonesa. Vamos sair juntos".
 
 A blind date? Nah, that wasn't for me.
Um encontro às cegas? Não, isso não era para mim.
 
But Sid kept pestering me, and a few days later we headed up to the Bronx to pick up
his date and her friend Roma.
Mas Sid continuou insistindo e, poucos dias após, nos dirigimos ao Bronx para buscar
a pessoa do seu encontro e a sua amiga Roma.
 
 I had to admit, for a blind date this wasn't so bad. Roma was a nurse at a Bronx
hospital. She was kind and smart. Beautiful, too, with swirling brown curls and
green, almond-shaped eyes that sparkled with life.
Tenho que admitir, para um encontro às cegas, não foi tão ruim. Roma era enfermeira
em um hospital do Bronx. Ela era gentil e esperta. Bonita, também, com cabelos
castanhos cacheados e olhos verdes amendoados que faiscavam com vida.
 
 The four of us drove out to Coney Island. Roma was easy to talk to, easy to be with.
Nós quatro nos dirigimos até Coney Island. Roma era uma pessoa com quem era fácil
falar e fácil de se estar junto.
 
 Turned out she was wary of blind dates too!
Descobri que ela era igualmente cautelosa com encontros às cegas.
 
 We were both just doing our friends a favor. We took a stroll on the boardwalk,
enjoying the salty Atlantic breeze, and then had dinner by the shore. I couldn't
remember having a better time.
Nós dois estávamos apenas fazendo um favor aos nossos amigos. Demos um passeio na
beira da praia, gozando a brisa salgada do Atlântico e depois jantamos perto da
margem. Não poderia me lembrar de ter tido momentos melhores.
 
We piled back into Sid's car, Roma and I sharing the backseat.
Voltamos ao carro do Sid, Roma e eu dividimos o assento trazeiro.
 
 As European Jews who had survived the war, we were aware that much had been left
unsaid between us. She broached the subject, "Where were you," she asked softly,
"during the war?"
Como judeus europeus que haviam sobrevivido à guerra, sabíamos que muita coisa foi
deixada sem ser dita entre nós. Ela puxou o assunto, "Onde você estava", perguntou
delicadamente, "durante a guerra?"
 
 "The camps," I said. The terrible memories still vivid, the irreparable loss. I had
tried to forget. But you can never forget.
"Nos campos de concentração", eu disse. As terríveis memórias ainda vívidas, a
irreparável perda. Tentei esquecer. Mas jamais se pode esquecer.
 
She nodded. "My family was hiding on a farm in Germany, not far from Berlin," she
told me. "My father knew a priest, and he got us Aryan papers."
Ela concordou. "Minha família se escondeu em uma fazenda na Alemanha, não longe de
Berlim", ela me disse. "Meu pai conhecia um padre, e ele nos deu papéis arianos."
 
 I imagined how she must have suffered too, fear, a constant companion. And yet here
we were both survivors, in a new world.
Imaginei como ela deve ter sofrido também, medo, uma constante companhia. Mesmo
assim, aqui estávamos, ambos sobreviventes, em um mundo novo.
 
 "There was a camp next to the farm." Roma continued. "I saw a boy there and I would
throw him apples every day."
"Havia um campo perto da fazenda", Roma continuou. "Eu via um menino lá e lhe jogava
maçãs todos os dias."
 
 What an amazing coincidence that she had helped some other boy. "What did he look
like? I asked.
Que extraordinária coincidência, que ela tivesse ajudado algum outro menino. "Como
ele era?", perguntei.
 
 "He was tall, skinny, and hungry. I must have seen him every day for six months."
"Ele era alto, magro e faminto. Devo tê-lo visto a cada dia, durante seis meses."
 
 My heart was racing. I couldn't believe it.
Meu coração estava aos pulos. Não podia acreditar.
 
 This couldn't be.
Isso não podia ser.
 
 "Did he tell you one day not to come back because he was leaving Schlieben?"
"Ele lhe disse, um dia, para eu não voltar porque ele estava saindo de Schlieben?".
 
Roma looked at me in amazement. "Yes!"
Roma me olhou estupefata. "Sim!".
 
 "That was me!"
"Era eu!".
 
 I was ready to burst with joy and awe, flooded with emotions. I couldn't believe
it! My angel.
Eu estava para explodir de alegria e susto, inundado com emoções. Não podia
acreditar! Meu anjo.
 
 "I'm not letting you go." I said to Roma. And in the back of the car on that blind
date, I proposed to her. I didn't want to wait.
"Não vou deixar você partir", disse a Roma. E, na trazeira do carro, nesse encontro
às cegas, pedi-a em casamento. Não queria esperar.
 
 "You're crazy!" she said. But she invited me to meet her parents for Shabbat dinner
the following week.
"Você está louco!", ela disse. Mas convidou-me para conhecer seus pais no jantar do
Shabbat da semana seguinte..
 
 There was so much I looked forward to learning about Roma, but the most important
things I always knew: her steadfastness, her goodness. For many months, in the
worst of circumstances, she had come to the fence and given me hope. Now that I'd
found her again, I could never let her go.
Havia tanto que eu ansiava descobrir sobre Roma, mas as coisas mais importantes eu
sempre soube: sua firmeza, sua bondade. Por muitos meses, nas piores circunstâncias,
ela veio até a cerca e me trouxe esperança. Não que eu a tivesse encontrado de novo,
eu jamais a havia deixado partir.
 
 That day, she said yes. And I kept my word. After nearly 50 years of marriage, two
children and three grandchildren, I have never let her go.
Naquele dia ela disse sim. E eu mantive a minha palavra. Após quase 50 anos de
casamento, dois filhos e três netos, eu jamais a deixara partir.
 
 Herman Rosenblat of Miami Beach, Florida
 
 
This is a true story and you can find out more by Googling Herman Rosenblat. He was
Bar Mitzvahed at age 75.
Esta é uma história verdadeira e você pode descobrir mais sobre ele no Google. Ele
fez Bar-Mitzvah com a idade de 75 anos.
 
This story is being made into a movie called The Fence.
Esta história está sendo transformada em filme, chamado "A cerca".
 
This e-mail is intended to reach 40 million people world-wide.
Este e-mail tem a pretensão de alcançar 40 milhões de pessoas, mundo afora.
 
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