sábado, 21 de julho de 2012

C.S. Lewis – Perdão versus Desculpas


Extraído do livro: Um ano com C.S. Lewis – Ed. Ultimato
Original do livro: Peso de Glória

Tenho a impressão de que quando acho que estou pedindo para que Deus me perdoe estou
muitas vezes (a menos que eu me cuide bastante) pedindo que Ele faça algo muito
diferente. Não estou pedindo que me perdoe, mas que me desculpe. Aí é que está toda
a diferença entre perdoar e desculpar. Perdoar significa dizer: “Sim, é verdade que
você cometeu tal coisa, mas eu aceito o seu pedido de perdão. Eu jamais o cobrarei
de você, e tudo entre nós continuará sendo exatamente como era antes”. Mas quando
desculpamos alguém, estamos dizendo: “Vejo que você não teve como evitá-lo ou não
quis fazer isso, e não foi realmente culpa sua”. Se não houve culpa real, não há
nada a desculpar. Nesse sentido, a desculpa e o perdão são quase opostos. É claro
que em dezenas de casos, seja entre Deus e o homem, seja entre uma pessoa e outra,
as coisas muitas vezes
se sobrepõem. Parte do que parecia, à primeira vista, ser pecado, revela-se como
não sendo realmente culpa de ninguém e é desculpado; o restinho que sobra é
perdoado. […]

Mas o que muitas vezes chamamos de “pedir perdão a Deus” não passa, na verdade, de
pedir que Ele aceite nossas desculpas. O que nos induz a esse erro é que normalmente
temos engatilhado certo arsenal de desculpas, ou seja, “circunstâncias atenuantes”.
Ficamos tão ansiosos em apresentá-las diante de Deus ( e de nós mesmos) que somos
capazes de esquecer a coisa mais importante, isto é, o que restou: o montante que as
desculpas não são capazes de cobrir, o restinho que não é desculpável, mas graças à
Deus não é imperdoável. Quando nos esquecemos disso, vamos embora achando que nos
arrependemos e fomos perdoados, quando na verdade tudo que fizemos foi dar
satisfações a nós mesmos com as nossas próprias desculpas. É   possível até que sejam desculpas bem esfarrapadas; é muito fácil dar satisfações a nós mesmos.






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