sexta-feira, 27 de julho de 2012

Na Roma Antiga viviam dois irmãos



Diferentes, no gênio e na maneira de ser, um era soldado, o outro era poeta.

O poeta compunha lindos versos que toda a cidade repetia. Era admirado por patrícios e plebeus, até César já o convidara para recitar suas poesias durante festins no palácio real.

O irmão soldado já participara de algumas guerras e no momento estava na cidade, na casa dos pais.
 
O pai daqueles jovens, um homem vivido, não podia deixar de notar quão diferentes eram seus filhos. Às vezes comentava com a esposa ou com os amigos:
 
- Vejam, meu filho mais velho, o soldado, desde pequeno mostrou ser um menino tranqüilo, equilibrado, cumpridor de suas obrigações. 

Transformou-se num jovem ajuizado, correto, trabalhador. Hoje, pertencendo  ao exército romano, tem sido elogiado por sua disciplina, lealdade e senso de justiça.
 
- Já o meu filho mais novo, o poeta, não que seja um mau rapaz, mas sempre foi rebelde, indisciplinado, irresponsável. No entanto, escreve versos lindos e todos o admiram. Sua poesia é bonita, mas inteiramente desprovida de conteúdo. Apesar disto todos repetem seus versos e acredito que mesmo daqui a muitos anos suas palavras serão lembradas.


- Das palavras ditas por meu filho soldado ninguém se lembrará. E nelas só existe sensatez e bondade... Como o mundo dá pouco valor ao que realmente é importante!

O tempo passou! O poeta continuou fazendo versos lindos e o povo continuou a repeti-los.

O irmão soldado, por reconhecimento das qualidades pessoais galgou o posto de centurião, e como tal foi enviado a uma das províncias romanas, a Judéia.

Lá se tornou respeitado por jamais abusar da posição de romano dominador.

Tratava as pessoas com atenção, justiça e misericórdia. Por ocupar um cargo de destaque, morava numa bela casa, cuidada por muitos serviçais. Todos o tinham como amigo. Um dos servos, entretanto, por haver entre eles muitas afinidades e por ser mais antigo no serviço, era-lhe particularmente caro.

 Um dia este servo adoeceu. Preocupado, o centurião mandou chamar, sem obter resultados, os melhores médicos da cidade. A doença progredia e o centurião temia perder seu servo e amigo. Já não sabia o que fazer.

Ouviu falar que naquelas redondezas perambulava um homem que já havia curado muitas pessoas. Cegos enxergavam, paralíticos andavam ao toque de suas mãos. Não teve dúvidas, aquele homem poderia curar o seu servo.

Foi até ele e pediu-lhe a graça. O homem prontificou-se a ir até sua casa e visitar o enfermo.

Diante de tão carismática criatura o centurião sentiu-se humilde e insignificante.
 
Replicou:

- Mas senhor, eu não sou digno de que entreis na minha morada, mas dizei uma só palavra e meu servo será curado.

 Algum tempo passou. O irmão poeta envelheceu e morreu. Dois anos após sua morte ninguém lembrava mais de seus versos. Poetas mais novos, modernos, usando estilos diferentes conquistaram a preferência das pessoas.

Mais tempo passou. Décadas, séculos, milênios... e as palavras do irmão soldado vêm sendo repetidas em muitos momentos, lugares e diferentes idiomas.


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